quarta-feira, 28 de novembro de 2012

O Filho do Boto

Ele apareceu na água.
Ele apareceu na praia.
Ele apareceu do nada
e, do nada, ele me olhou.

Tinha um corpo grande e aberto
que estalava de tão bronze,
e os olhos tão sorridentes
que a boca quase sumia,

e uma pele tão molhada
que eu jamais discerniria
o que água, suor, orvalho,
ainda que usasse a língua.

Ele olhava para mim
e sua boca novamente
inútil, desnecessária,
pois seus olhos me beijavam

numa volúpia tão quente
que molhada fiquei eu
de orvalho, água, suor
ansiando por seu toque,

um toque que nunca veio.
Ele só ficou me olhando
até me fazer inteira
só com os olhos, só com os olhos!

Esperou tranquilamente
até que eu me refizesse,
depois disso, só me deu
uma piscada e partiu

(o que me surpreendia
era que, mesmo de costas,
por trás da sunga vermelha,
pude ver que ele sorria).

Ele apareceu na água
e para a água voltou.
Ele apareceu. A praia
nunca mais me abandonou.

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