sábado, 3 de novembro de 2012

...e Então Há a Morte

(a Fernanda Drummond)

"With your kiss my life begins
You're spring to me, all things to me
Don't you know, you're life itself!"
(David Bowie, "Wild is the Wind",
na voz de Nina Simone)

A Morte
se instala no ventre
de uma casa com jardins lindíssimos
(e área para fumantes)
e canta versos como quem cozinha
com indescritível fineza.

Ela sorri, e não tenho medo.

Sei que a Morte é repleta do vigor primevo das bruxas,
que jamais nega seu amor ou sua fúria a ninguém.

Ela é bela, bela, muito bela,
a rainha dos ventos e das mudanças,
deusa oculta de todas as coisas vivas,
e uma esplendorosa mãe e irmã.

Segredo das coisas lindas,
sossego das coisas findas,
a Morte é o sabor mais raro de vida

que alguém pode experimentar,
E também o mais generoso,
Pois que será experimentado por todos,
ainda que uma única vez,
ainda que por toda a vida.

Ela tem o aroma do meu primeiro amor,
E um toque de orvalho seco.

Agora tenho medo.

Agora, é como se ela chegasse de repente
pedindo por lágrimas suas que eu havia combinado de lhe devolver
mas esquecera de separar,
e então tivesse que procurar correndo,
bagunçando todas as gavetas.

Tenho medo agora.
Mas ele não me paralisa. Ao contrário,
é por causa desse medo que eu sei
que devo ir.

E é por causa desse medo
Que eu vou sem medo.

Porque é o tipo de medo que se sente
Quando você percebe
Que conquistou o amor da sua vida.

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