domingo, 28 de março de 2010

Poema Etílico nº 4

"É um fim de tarde perfeito",
ela me dizia
com olhos repletos de Brahma
e de amizade perfeita.

Olhei para o céu
e quase concordei.

Era perfeito.

Mas não era fim de tarde.

Saudade

Era madrugada e eu já não tinha sono
quando uma sombra de chuva chegou a meus ouvidos
e me percebi subitamente com saudade
de São Paulo

Não de seus habitantes que pouco conheço
e mais me despertam curiosidade
sobre como seriam
regularmente

Nem de suas ruas cinzentas
pairando sob um céu ainda mais cinza
que por sua vez paira sob uma lua
quase da mesma cor

Tampouco é saudade de seus bairros temáticos
divididos com uma precisão geográfica e antropológica
que meus olhos cariocas talvez nunca
venham a compreender

Ou ainda da minha amada
que vive por lá há um tempo
e por quem minha saudade não é súbita
nem me surpreende

Não

A Saudade de São Paulo que senti
é saudade de mim habitante
passeando por suas ruas por seus bairros
pelo meu amor.


terça-feira, 23 de março de 2010

Iceberg

"Meu coração é um Almirante louco"
Álvaro de Campos


Poemas se assemelham a um iceberg.
Uma parte nos assombra e nos comove.
Outra parte nos move.

Uma parte, tão abaixo da Lua quanto a outra
é, por ela, iluminada,
brilha com vastidão na intensidade.
Outra parte a Lua agarra,
maré.

Uma parte é concreta,
lapidável.
Outra parte é mais concreta.
Inefável.

Amo essa parte
tão bela,
tão calma.
Mas não ignoro
que é a outra perte
que tem o poder de derrubar navios.




domingo, 14 de março de 2010

O Nome do Jogo

A vida é um jogo.
Tá, mas que jogo?

Para uns, a vida adquire a complexidade de um jogo de xadrez.
Para outros, ela é simples como par ou impar.
Há aqueles para quem
o jogo da vida é simplesmente o Jogo da Vida®
(seu filho nasceu, receba os presentes).
Qual é, então, o jogo do Artista?

Um Artista, não se engane, é um homem comum,
com um emprego comum
(um encanador, talvez)
nascido em um lugar qualquer desse mundo
(digamos, a Península Itálica,
terra de Dante, Michelângelo,
Al Capone).

Porém,
quando se vê obrigado
a sair do seu pequeno mundo
para salvar sua Princesa
(porque todo artista tem a sua princesa)
ele descobre-se capaz
de realizar feitos extraordinários.
Pular grandes distâncias.
Correr sem se cansar.
Nadar, sem respirar, ao som de uma valsa.

O trabalho de um Artista
é árduo e perigoso,
e ele está sozinho.
Mas há momentos em que ele
encontra sua estrela
e, por alguns instantes, torna-se invencível;
carrega uma flor
e passa a soltar fogo pelas mãos;
toma um cogumelo
e dobra seu tamanho, seu vigor.

Três vezes ele pode definhar,
três vezes, e mais três pra cada uma.
Três vezes ele corre contra o tempo.
A quarta é o castelo.

Sem espada, escudo ou armadura
o Artista é armado
com sua sensibilidade, apenas
O Dragão, contudo, não é um dragão.
É uma tartaruga
agigantada pelos caprichos
desse estranho reino.

Ultrapassado o Dragão
(pois não há como transpassá-lo) ,
o Artista encontra a alcova
onde espera encontrar sua Princesa.
Mas o jogo nunca tem fim
e no lugar da princesa haverá
(quase) sempre aquele rapaz irritante
a lhe dizer "obrigado, mas
a princesa está em outro castelo"

Spleen

Não quero estar sozinho
e não espero a companhia de ninguém.
Queria
estar, apenas.
Sem janelas,
sem remorsos,
sem porvir.

Independentemente do que possa,
acho que hoje eu quero o tanto faz.

domingo, 7 de março de 2010