domingo, 30 de agosto de 2009

O Livro do Destino

O reino do Destino é um labirinto infinito
como um livro de Borges,
como todos os livros.

Por lá ele passeia,
enfastiado,
pois conhece todos os caminhos
de seu reino.

Quando Destino quer viajar sem rumo
ele lê o seu livro
e se perde no sonho dos homens,
no seu desespero, seu delírio,
sua destruição, seu desejo.
Se perde na sua morte.

Ou você acha que
o Livro do Destino
é escrito em prosa?

quinta-feira, 6 de agosto de 2009

O Impenetrável

[E agora, um pouquinho do meu lirismo diabético.
Esse poema tem aí uns quatro, cinco anos de existência.]


O Impenetrável


Há na nudez desta prostituta
prestes a se entregar a mim em holocausto
fragmentos de um erotismo espiritual
que mal vaza dos seus olhos vazios.

Olhando ela assim, tão nua,
me dá vontade de conheçê-la
num sentido que não o bíblico.
Vontade de conhecer seu nome
- o verdadeiro -
seus livros preferidos,
seus sonhos,
seu signo.

Claro que nada disso existe na hora do trabalho.
Seu corpo está nu. Ela não.
Suas portas abertas escondem algo de impenetrável
e seus seios são como duas torres de vigia, cujas armas
permanecem em punho por causa do frio
(fingimos que é por minha causa)

Ela não diz nada com a boca.
A boca não serve para isso agora.
Mas não consigo deixar de pensar
que esta seta que carrego no meu centro
lhe abafa um grito.

Por fim essa mulher,
com uma lascívia impassível,
termina o serviço.
É quando, já quase lhe dando as costas,
vejo algo que me parece uma breve lágrima em seu rosto
e me excito pela primeira vez na noite.
Mas não.
Aquela secreção era minha.


domingo, 2 de agosto de 2009

Primeiro Encontro

[Esse é pra quem acha que eu só escrevo coisas "engraçadinhas". È um poema de março de 2006.]

Primeiro Encontro


14 de fevereiro, Valentine's day,
lua cheia.
Poesia no ar, na água, na terra.
Fogo no coração,
embora ainda não o saibamos.
Bebemos ardorosamente
toda a poesia,
com amor e fé
("Fé em quê?"
ouço alguém gritando)
depois passamos
para a cerveja
(não, espera,
ainda há bastante poesia
para tragarmos aqui
pelo ar e pela terra,
é uma livraria.)
Não adianta, queremos mais,
sempre mais,
vamos até a sua casa?
Ainda há poesia na terra,
a lua desce. É dia.
Agora os corações não se aguentam.
Um papo quente.
Mãos entrelaçadas.
Mil verdades.
Uma consequência
- é quando descobrimos nossos fogos
ardentes,
cândidos, uma novela
de Manoel Carlos.