quinta-feira, 7 de julho de 2011

Mais um pôr-do-sol

De volta. Após nove meses. Enfim. Um pouco de Sol, o Rio precisa.



Mais um Pôr-do-Sol


O Sol se põe atrás de uma montanha
(Até aí nenhuma novidade,
isto acontece todo dia, atrás -
e à frente - de todas as montanhas).

Esta é, porém,
uma daquelas ocasiões singulares
em que o Sol modifica a palheta de cores do universo,
tudo adquire o mesmo tom rosado
e as margens do céu prendem a respiração.

Duas senhoras conversam em frente a suas casas.
Comentam a cor do Sol,
comentam a cor do céu.
Mas elas não comentam a cor das paredes brancas,
a cor do chão cinza, das árvores verdes.
Não comentam sua própria cor.

Eu, olhando e sendo olhado por todo este esplendor,
me entristeço de leve ao lembrar-me das primeiras vezes
em que vi um pôr-do-Sol desse jeito.
Este, como aqueles, é um pôr-do-Sol inesquecível,
mas eu já vi muitos assim
e não me lembro de todos.

Chegará o dia
em que não me lembrarei de nenhum destes.
Lerei estes versos
e ainda assim não me lembrarei.
Por isso me entristeço.
Porque não poderei me entristecer então.
Por isso olho pra trás. Porque
chegará o dia
em que não mais me lembrarei de olhar pra trás,
não haverá em mim motivo para olhar
ou o que olhar.

Nenhuma novidade.

O que me acalenta e me conforta de leve é que também
chegará um dia
em que meu filho verá um pôr-do-Sol como o de hoje
pela primeira vez
e, um dia, o filho dele.
nestes dias
o novo será novo novamente
e as margens do céu irão suspender a respiração
(entenda, isto acontece todo dia,
atrás - e à frente - de todas as montanhas).

Um comentário:

  1. Depois de nove meses, hein... E Bah...! Deveras, PH. Deveras, só teve um verso que eu não gostei muito que foi: "Eu, olhando e sendo olhado por todo este esplendor" acho que apalavra "esplendor" me incomodou um pouco... Mas fora isso, gostei... Mesmo.

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