quarta-feira, 1 de julho de 2009

Abrindo o baú Nº 1 [inclui Chuva]

Uau.

Arrumando meu quarto, minhas coisas, vejo que achei mais do que esperava. Encontro, em uma caixa de sapatos, coisas de há muito, muito tempo atrás, do que parece ser uma galáxia distante. Fotos, agendas, camisas de colégio com assinaturas da turma inteira (ainda fazem isso hoje em dia?), ingressos de filmes antigos... e meus primeiros textos! Falo de textos anteriores a qualquer pretensão séria em relação à minha obra, textos que nasceram das minhas primeiras audições de Caetano, da minha primeira descoberta da Língua.

Não resisto a partilhá-los com vocês. Claro, são textos de um adolescente que mal sabia o que é a poética (saberá ele hoje?), que engatinhava na miríade de possibilidades de expressão literária. Mas, creio eu, já tinha o que dizer.

Ah, sim, são textos do século passado.

Vamos ver?


Chuva


Está chovendo.
Meu corpo semi-permeável não deixa passar água
não, nada da água cristalina que poderia me purificar.
Mas a chuva passa
e meu coração fica nublado, cinza,
um cinza-escuro, carregado de dor sem razão
(ou talvez haja razão, mas a neblina dificulte a visão).
Mas não importa. Há dor. Isto é fato.

Um coração vazio, a própria presença do Vazio,
a falta de tudo o que importa no momento
obriga o poeta - eu - a pensar, sentir, ser alguma coisa
para poder escrever-se, interpretar-se
e o masoquismo então toma conta,
o paradoxo da angústia toma conta dele - de mim - e acontece
de o poeta ser mais cheio quando está mais vazio.

(Novembro/1998)

Um comentário:

  1. Como prometi, cá estou. No "Chuva".
    Adorei a primeira estrofe. Mesmo. Tem imagens bonitas, sentimento carregado, denso.
    "Mas não importa. Há dor. Isto é fato."

    Tenho que confessar que eu me senti em pleno Alto da Boa Vista, por causa da chuva, da neblina, das cascatas e da sombra.

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