sábado, 20 de junho de 2009

A Alegria

A Alegria
(A R. Ducinni)



A Alegria
é uma filha da puta escrota
que vive na minha aba.
Sempre do meu lado nas festas,
nas baladas, no barzinho,
mas na hora em que a gente mais precisa dela,
cadê?
Onde foi que ela se meteu
quando a minha primeira namorada me deu um pé na bunda,
quando eu perdi o meu primeiro emprego
quando eu levei o meu primeiro zero em matemática?
Cadê ela
no dia da morte do meu primeiro filho?

A Alegria
é um frango de padaria
brilhante e suculento,
mas depois que a gente come
o que sobra é a farofa no dente.
Ela é ambígua como beijo de mulher feia,
instável como o verão do Rio
e efêmera, como todas as tardes de domingo.

A Alegria é a programação da TV das tardes de domingo.

Mania da gente de se apaixonar por quem não vale nada...
Mas se é pra gostar dessa piranha desdentada,
dessa vagaba,
dessa filha da vida,
também vou sacanear.
Vou amá-la, sim,
mas o meu amor vai ser que nem ela.
Efêmero.
Instável.
Ambíguo.
Vou amá-la como a uma mulher de malandro,
como a uma rameira de rodoviária.
Porque aí ela é quem vai me querer.
Vai se ajoelhar aos meus pés,
vai se humilhar, implorando
por um pouco de respeito,
para que eu me entregue totalmente,
para que eu seja só dela de novo.
E eu alegremente direi: não,
e voltarei para a minha melancolia
que é quem me faz feliz.

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