Caminho, invisivel, por ruas cruéis em Copacabana.
Barulhos de carros me atropelam os ossos
enquanto anjos demônios inocentes
pedem trocados em troca de boquetes
à luz da lua infante e esfumaçada
de loucos drogados bêbados.
Olho tudo, como se não tivesse
razão nenhuma para estar ali,
como se não fosse eu um mesmo homem
a girar o coração na lama e no chorume
de todas as revoltas patéticas de bar,
de todas as programações sangrentas de televisão,
de todos os protestos covardes das redes sociais.
Caminho, e por um instante acho isso grande coisa,
Como se, por andar e caminhar sem rumo,
eu não estivesse tão imóvel e sonumbático,
tão incessantemente vulgar e desimportante
quanto você.
Já se foram Homero Virgílio,
Pessoa Caeiro não mais.
Nosso Drummond, no entanto, ainda está aqui, num canto,
a olhar os peitinhos das meninas que sentam ao seu lado
e a ter seus óculos roubados dia a dia.
Olhos de cobre e vento que já não lhe servem.
Drummond sentado eu caminhando,
meus olhos se avermelhando pouco a pouco,
turistas admirando nosso safari humano a céu aberto,
a vida passando por fora de nós,
em algum lugar pessoas trepando
enquanto choram de gozo, de asco, de medo.
Ah, essa angústia que não quer mais ter fim,
que martela craveja marca a fogo
o fato de que ainda estou vivo em algum lugar,
eu anjo demônio lua homem lama
estátua menina ladrão turista mendigo estuprador.
Eh la ho.
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