quinta-feira, 6 de agosto de 2009

O Impenetrável

[E agora, um pouquinho do meu lirismo diabético.
Esse poema tem aí uns quatro, cinco anos de existência.]


O Impenetrável


Há na nudez desta prostituta
prestes a se entregar a mim em holocausto
fragmentos de um erotismo espiritual
que mal vaza dos seus olhos vazios.

Olhando ela assim, tão nua,
me dá vontade de conheçê-la
num sentido que não o bíblico.
Vontade de conhecer seu nome
- o verdadeiro -
seus livros preferidos,
seus sonhos,
seu signo.

Claro que nada disso existe na hora do trabalho.
Seu corpo está nu. Ela não.
Suas portas abertas escondem algo de impenetrável
e seus seios são como duas torres de vigia, cujas armas
permanecem em punho por causa do frio
(fingimos que é por minha causa)

Ela não diz nada com a boca.
A boca não serve para isso agora.
Mas não consigo deixar de pensar
que esta seta que carrego no meu centro
lhe abafa um grito.

Por fim essa mulher,
com uma lascívia impassível,
termina o serviço.
É quando, já quase lhe dando as costas,
vejo algo que me parece uma breve lágrima em seu rosto
e me excito pela primeira vez na noite.
Mas não.
Aquela secreção era minha.


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