terça-feira, 1 de setembro de 2009

Flor de Lobos

I

Em um lugar
a duas horas de onde quer que você esteja
uma flor
dorme.

Anda o quanto quiseres,
para onde quiseres,
a distância não diminui.

Ou aumenta.

Para alcançá-la
deves abandonar a ti mesmo
e caminhar por duas horas
(na direção correta, cuidado).

Abandonar não o teu corpo,
não o teu espírito.
Deves abandonar o eu
que em ti é um outro.

..................................................Abandonar-
.......................................................................te.

Alcançarás a flor?
A flor te alcançará.
Não onde estiveres.

Onde deixaste-te.

Há, porém, um porém:
ela morde.


II

Esta flor não tem espinhos.
Tem garras.
Não tem pétalas.
Tem dentes.
Não tem talo.

Também não tem coração.

Esta flor
não se pode arrancar,
não se pode sequer tentar
(duas horas, lembre-se)

Ela, no entanto,
ao acordar, te arranca.

(de Onde?
para Onde?)


III

Uma vez eu tentei
tentar arrancar a flor.


IV

Duas horas depois
acordei
sem dentes,
sem garras.
Meu coração se fora, todavia.

Um comentário:

  1. Eu posso ficar semanas sem vir aqui, mas, sempre que venho, existe uma ótima surpresa, como esse poema.

    abraços, PH.

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